quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um dia de camarão.




Por Everton Alves.

Ola pessoal! Hoje eu queria compartilhar com vocês uma experiência que tive. 

Tudo começou quando Marta Simone ganhou um “Jantar A2 no Restaurante Camarões Potiguar”... A “cortesia” seria um prato para ela e um acompanhante e bebida sem álcool para ambos. Imaginei logo que seria algo do tipo “rico saudável”, ou seja, meio camarão com uma pitada de orégano e qualquer folha que medisse de 2 a 4 centímetros, onde o prato se chamaria “Camarão à sombra”, de algum chefe de cozinha que nem chegou a concluir o curso do Barreira Roxa . Estava enganado. 

Eu já devia saber que havia algo de errado, a começar por não ter nenhum cupom ou documento que comprovasse a cortesia. Simplesmente, NADA! Mesmo assim foi possível que ela ligasse e falasse com o “Maitre” de lá, agendando o tão sonhado dia e horário. 

No dia “D” nos aprontamos e chegamos atrasados, pra variar. Era como se isso já fosse um mal presságio, um sinal de que aquilo não era para nós dois. 

A viajem foi tranquila. Fomos pela via costeira escutando “Queens Of The Stone Age”, no meu Pálio 97. Quando chegamos ao local, primeiramente ficamos receosos de que os seguranças do estacionamento privado do restaurante nos recebessem com retaliações! Por isso passamos 15 minutos na esquina decidindo se seria bom mesmo esse jantar 0800. Aproveitamos a ida do segurança ao banheiro, e entramos no estacionamento. 

Ao descer do carro, algo vinha em minha mente como se fosse uma voz dizendo: Compre cuscuz.... cuscuz... foi aí que percebi que era meu ego me lembrando de minhas origens. 

Saímos como se tivéssemos descido da 4x4, no qual escondemos nosso carro por trás. 

Até agora tudo ok! 

Fomos entrando e admirados com tal construção, design e beleza que o local possuía. 

Boa noite Senhores! Desejamos que essa noite seja maravilhosa para vocês e que tudo seja agradável!!! Em que posso ajudar? – O garçom nos havia atendido. 

Rapidamente eu disse: “Filha, fala difícil para ver se a gente passa sem ter um Iphone 5 na mão!” 

Moço, boa noite. Nós ganhamos uma cortesia de um jantar e eu agendei para hoje com o Maitre João Paulo ou é Francisco...” 

Nessa hora eu fiz menção em correr para fora do recinto, antes que eles descobrissem que éramos da ZN. Mas ela me segurou. 

Certo senhora! Façamos o seguinte, podem escolher um local para se sentar e se acomodem, enquanto isso entrarei em contato com o nosso Maitre. Desejamos que essa noite seja maravilhosa para vocês e que tudo seja agradável!!! 

Primeira fase concluída, pequeno grilo e águia rainha dentro do ninho! 

Ao passar por entre as mesas, uma coceira me possuía! Sentamos. 
Imediatamente, outro garçom veio dos Céus e disse: 

Desejamos que essa noite seja maravilhosa para vocês e que tudo seja agradável!!! Desejam algo? 

Fiquei tão assustado com a aparição repentina do indivíduo que a única coisa que saiu dos meus lábios foi “chame o Maitre.” 

Então o Maitre veio. 

Pois não senhores, algo em que possa ajudar? 
Boa noite! Me chamo Marta Simone e ganhamos uma cortesia para um jantar. – disse Simone. 
Certo senhores. Fiquem à vontade e podem fazer o pedido de vocês. Desejamos que essa noite seja maravilhosa para vocês e que tudo seja agradável!!! 

Essa frase começava encher o saco! 

Mesmo depois disso eu ainda continuei achando estranho, pois nada havia sido pedido de nós! Um nome, apenas um nome eles tinham e só. 

Passamos mais uns 20 minutos escolhendo o prato e finalmente chegamos a um consenso, “Camarão no jerimum” seria a nossa escolha. 

Enquanto isso chegava um casal que se sentara na mesa ao lado, duas mulheres. 

Enquanto tudo isso ocorria fiz uma análise visual do ambiente e das pessoas. Pude constatar que a roupa mais barata era da “Calvin Klein” e o prato mais barato era o nosso. Mas uma única coisa me chamava mais a atenção do que tudo, do que o velho rico com a garota jovem, do que as 15 crianças na faixa de 14 anos que comemoravam um aniversário e do que o silêncio quase absoluto, apesar da quantidade de pessoas, era que todas as pessoas ali possuíam um Iphone 5. TODAS AS PESSOAS, INCLUSIVE AS CRIANÇAS. Cheguei a achar que vinha um em cada mesa e comecei a procurar desesperadamente o meu, dentro dos sachês de açúcar mascavo. Doce ilusão. 

Foi aí que percebi que eu e Simone éramos os únicos que tinham algo parecido com celulares. Escondemos os meus dois e um dela, já que o outro era touch screen e eu disse que estava valendo. 

Enquanto isso eu “trolava” a todos. Com um Ipod 1ª geração em uma capinha de Iphone 4s, bossava lindamente!  

Tudo estava bem, até o Maitre voltar. 

Fomos descobertos amor! Corremos ou botamos a faca no pescoço de alguém e o fazemos de refém até a saída?' - Desesperado, falei ofegante. 
Senhores, com sua licença. A senhora é a Marília, não é? 
Não. Marta Simone. 
Marta? Bom Marta, você tem algum comprovante dessa cortesia? Algo? 

Uma lágrima desceu meu rosto... 

Não. Me falaram que não precisava e inclusive eu agendei com o Maitre João Paulo ou é Francisco. 

Mais uma vez a falta de memória não nos favorecia. Sem um nome do Maitre a nossa situação piorava mais e mais. 
Marta, será que não foi agendado no outro Camarões? 
Vigiiiiiiiiiiiiiiiii! 
Mas não se preocupe senhores, podem ficar à vontade que eu dou um jeito de resolver isso! Podem fazer seu pedido e ficar tranquilos. Desejamos que essa noite seja maravilhosa para vocês e que tudo seja agradável!!! 

A frase começou a me agradar novamente. 

De vez em quando eu levava o Ipod ao ouvido para fingir ser uma ligação de negócios, balbuciava algo que não se entendia nada, com pitadas de meios sorrisos.

Ninguém poderia nem olhar para o garçom que ele vinha correndo até a mesa, e depois de “trollar” muito, resolvemos fazer o pedido. 

Senhores? 
Nós queremos o “Camarão no Jerimum”! 

Nessa hora o garçom ficou olhando pra minha cara e só podia estar pensando em duas coisas, ou que eu não sabia o que estava fazendo ou “que tipo de rico é esse que não pede um prato de entrada?”. Mas, como meu tio já dizia, a essência de “pobe” tá impregnado na carne, aí resolvi me mostrar, não de propósito, mas por instinto. 

Bom, é... Gostaria de pedir também um “CARPETE de Camarão”! Ops, quer dizer, um... 
“Caprese de Camarão”? 
Pode ser! 
Desejamos que essa... 
Já sei, já sei. Obrigado! 

Simone olhou para mim como quem dissesse “perdoa-o pai, ele não sabe o que faz!”, mas concordou na escolha. 

As duas senhoras que estavam sentadas ao nosso lado continuavam a olhar pra gente e comecei a ficar constrangido, não sabia se estava me portando errado, mas com certeza errar o nome do prato de entrada, chamou a atenção delas. 

Conversa fiada vai, conversa fiada vem, o prato chegou e minha primeira reação foi:

COMO É QUE SE COME ESSA COISA???????? 

Era uma taça com camarão, tomates sem casca e uma espuma em cima que pensei ser creme de barbear. Ingenuidade minha, era mais gostoso. Vinha uma cestinha com torradas e duas colheres. Após 5 minutos olhando pra aquela coisa, resolvi encarar e agir como se aquilo fosse a coisa mais comum que eu fazia todos os dias.

Delícia! Na França isso aqui é ainda mais gostoso. 
Kkkkkkkkkk... 

Acho que com essa frase as duas senhoras esqueceram a minha falha anterior e começaram a me respeitar mais. 

O prato principal chegou. Lindo, por sinal! Um jerimum meio halloween com camarão cozido dentro. Tirinhas de queijo de coalho e raspas de coco torrado. Um manjar dos Deuses que vinha acompanhado de arroz com brócolis e macaxeira frita, seis pedaços, mas vinha! 

Achei que meu estômago não aceitaria tal alimento, é como se você tentasse instalar o “whatsapp” no Nokia 5310, ou rebaixar seu carro pra andar aqui em Natal, não daria certo. 

Comia freneticamente. Era uma delícia e para completar, pedimos uma jarra e suco de laranja. 

Tirando o fato de que o garçom, sempre que ia à nossa mesa, ria de canto, talvez por já ter pego o 01 comigo e pensado “um bost* desses, lascado, mora lá na zona norte e vem dar uma de rico aqui...”, outro fato me chamou atenção. As duas senhoras ao lado, quando terminaram de comer seu “Camarão Internacional”, pediram para fazer a quentinha para levar as sobras!!!!!!! Ou seja, POBRES IGUAIS A MIM! Ninguém esconde suas origens! 

Para tirar a dúvida e saber se o garçom sabia que eu era da ZN, quando ele recolhia os pratos... 

Satisfeitos senhores? - perguntou o garçom, com um sorriso incompleto. 
Sim, muito! É bom pra variar do cuscuz de todo dia. 

O sorriso dele sumiu na hora. Deveria estar pasmo por saber agora que eu realmente era da ZN, ou que eu era um rico filho da put* que tava tirando onda com ele! 

Todo rico toma cafezinho quando termina de comer. Simone teve essa sensação. 

Quando o Maitre veio para que finalizássemos a conta, Simone disse para mim “vamos pagar a diferença do acréscimo que pedimos, no débito, só pra fazer o mal”. 

Amor, rico faz isso porque pode, num é porque é mau não! 
Senhores, está tudo ok! Tiveram uma boa noite? 
Sim, tivemos sim! 
Então senhores, está tudo ok, não precisam pagar nada! O acréscimo do prato de entrada e o café é por conta da casa. - Quase chorei nessa hora. 
Obrigado! 

E saímos felizes da vida, mas ainda desconfiados de que o guarda lá do estacionamento pensasse que estávamos roubando um pálio 97. 

E para completar a noite eu ainda escuto “Num vou nem escovar os dentes pra não tirar o brócolis do dente...”. 

É mole?! 

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk muito bom!
    fazia muito tempo que eu não passava por aqui. havia me esquecido o quanto seus texto são divertidos!

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